14 setembro, 2012

Quanto aos que nos ferem...

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"Tem misericórdia de mim, ó Senhor, porque estou angustiado. Consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma, e o meu ventre." (Sl 31:9)

O caminho para casa era longo. Eu ansiava por chegar, cair de joelhos na sala e chorar aos pés do Senhor, transbordando a minha dor. Eu ainda conhecia muito pouco da Bíblia para entender como Deus age quando somos feridos e encontrar consolo. Durante muito tempo, caminhei a passos trôpegos, entorpecida pelo sofrimento, até compreender que Ele se importa com os oprimidos.
“Pela opressão dos pobres, pelo gemido dos necessitados me levantarei agora, diz o Senhor; porei a salvo aquele para quem eles assopram.” (Sl 12:5)
Você sabe do que eu estou falando, não importa há quanto tempo você é cristão, vez ou outra, você topará com um Demas, ou um latoeiro, pelo caminho. Aquele tipo de pessoa que fará de tudo para se opor a você, puxar seu tapete, te desprezar, te humilhar, te desmoralizar, te rejeitar, te ridicularizar, te difamar, te ignorar, te fazer sentir inadequado, fazendo questão de demonstrar que não gosta de você, e não fazendo questão de ter você por perto. Um tratamento cruel, explícito ou velado, que na maioria das vezes vem de pessoas que poderiam te amar, como Jesus, sem hipocrisia e sem favoritismos. Mas, por algum motivo, escolhem te machucar, deixando um rastro profundo de dor emocional na alma, que é uma das mais difíceis de suportar e de ser superada.
“Pois não era um inimigo que me afrontava; então eu o teria suportado; nem era o que me odiava que se engrandecia contra mim, porque dele me teria escondido. Mas eras tu, homem meu igual, meu guia e meu íntimo amigo. Consultávamos juntos suavemente, e andávamos em companhia na casa de Deus.” (Sl 55:12-14)  
Durante aqueles momentos de inconformismo, entre lágrimas, no tapete da sala, me veio à mente a história de José, e percebi que a resposta de José a seus irmãos, era a que Deus me requeria: Que eu não reagisse, nem me defendesse, que ficasse inerte ante aquelas situações de injustiça. Sempre pensei ser fácil perdoar os que nos ferem quando estamos na condição de Governador do Egito. Mas, e durante os anos de cativeiro? E durante aqueles dias intermináveis de abandono e desonra? Como lidar com a crueza da dor? E enquanto seus opressores cantam e dançam à sua frente, em uma posição privilegiada, e a sua humilhação é como vinagre sobre a ferida? Nessas horas, é essencial termos uma visão precisa de como Deus age em relação aos que nos ferem, para não desfalecermos.
“Ao aflito livra da sua aflição, e na opressão se revela aos seus ouvidos.” (Jó36:15)
Deus não folga com a injustiça, Ele não é um pai tirano que assiste impassível enquanto seus filhos são afligidos. Ele ouve a voz dos oprimidos, estende Sua mão compassiva e se volta contra os opressores, que sua indignação suscitam. O maior consolo quando somos molestados, é descansar na certeza de que não estamos sós, Deus vê e toma para Si as nossas dores, Ele nos acolhe. Ele é maior do que os que nos aborrecem sem causa, e esses não prevalecerão.
“O Senhor faz justiça e juízo a todos os oprimidos.” (Sl 103:6)
Paulo nos aconselha a, se possível, ter paz com todos, mas, raramente aqueles que nos causam males nos dão abertura para o entendimento. Geralmente, o ofensor é a parte mais fraca do conflito e tem dificuldades em se retratar. Mesmo assim, precisamos lidar com a questão individualmente e a dor não deve ser ignorada. O imperativo: “Você tem que perdoar”, se torna cruel e é inoportuno mediante o sofrimento; ficamos confusos, desorientados e podemos cair em autocomiseração que resultará em atitudes destrutivas. A ferida precisa ser tratada. Davi não a escondia, ele falava com Deus abertamente sobre seus problemas pessoais, assim como, sobre as perseguições que sofria. Ele fortalecia a sua fé, afirmando constantemente sua confiança na intervenção de Deus.
“Tem misericórdia de mim, ó Deus, porque o homem procura devorar-me; pelejando todo dia, me oprime”. (Sl 56:1)
Deus nos incentiva a alçar a voz e rasgar nosso coração diante Dele para sermos confortados. Ele compreende e respeita a nossa dor. A maioria dos Salmos fala por nós e a nós e nos convida a nos expressar sem reservas, nos mostrando como devemos agir, de modo a agradar a Deus, seguindo o exemplo dos que passaram pelo vale da humilhação sem indícios de vingança, com sabedoria. Cada um arcará com as consequências de seus atos, não importa quanto tempo demore, a disciplina de Deus será aplicada visando restauração.
 
Voltar nosso olhar para o exemplo da vida de cristãos experimentados e para os incomparáveis sofrimentos de Cristo, nos faz desviar a atenção de nós mesmos, e nos leva a ponderar acerca da nossa postura diante das situações de injustiça. Depositando nossa confiança na intervenção de Deus, abrimos caminho para que Ele aja a nosso favor, ficando livres do encargo de agir pelas próprias mãos, e do controle do oponente sobre nossas emoções.
Temos um manancial de águas vivas, um reservatório de amor infinito junto ao Trono, disponível para suprir nossas necessidades emocionais, que nos ajuda a suplantar a dor e nos capacita a perdoar aos nossos opressores, assim como Jesus perdoou. Saber que estamos agindo em obediência a um Deus que julga nossa causa e nos ampara, nos permite avançar, como José, rumo aos propósitos de Deus para as nossas vidas, firmes e inabaláveis, em um mundo decaído, onde relacionamentos oscilam e carecem de amor.
“... pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente;” (1 Pe 2:21-23)

Ira Borges

 

06 setembro, 2012

O limite do esforço humano

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Para quase tudo na vida, o esforço é  um ingrediente imprescindível que nos traz a vitória, o sucesso. A palavra esforço, no dicionário, entre outras coisas significa tornar-se forte; animar-se; empregar todos os meios; empenhar-se. Porém na contramão desta verdade em várias vertentes da vida, no que tange à salvação a conversa é diametralmente contrária.

A Bíblia explica, desde o início, que a salvação não depende do nosso esforço e indica o rumo correto a ser seguido. Todo cristão que conhece um pouco da Bíblia, sabe que somente por meio do sacrifício de Cristo é possível se reconciliar com Deus Pai, que não existe outro caminho.

Como isso foi mostrado no início? Após voluntariamente o homem desobedecer a uma clara ordem dada por Deus, isto ocorreu:
“Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”. Gên. 3:7 

O homem e a mulher se envergonharam e quando se viram nus, buscaram cobrir-se pois Deus os visitava todo dia. O homem sentiu a necessidade de fazer algo para encobrir a vergonha que sentia e, por seu esforço, produziu sua própria cobertura. Deus viu, questionou e mostrou que a cobertura que o homem tentou produzir não era a solução. Homem e mulher haviam sido previamente avisados que teriam sérias consequências como fruto da desobediência. Deus amaldiçoou a serpente, a terra e penalizou o homem e a mulher, porém não deixou de apontar o caminho de volta a ser tomado:

“E fez o SENHOR Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.” Gên. 3:21

Deus não os rejeitou nem expulsou do Jardim sem o alento de um plano remidor, que já estava concebido, preparando uma via de retorno. Um primeiro sacrifício foi feito e foi providenciado pelo próprio Deus, indicando o caminho, assim como Ele mesmo proveu o último, em Jesus, que sendo despido no Calvário nos cobre eternamente.
Não cabe ao homem se esforçar para merecer a salvação, mas cabe a ele render-se à obra consumada no Calvário. O esforço é algo louvável, através do qual produzimos muitos frutos mas, nem ontem, nem hoje e nem amanhã produzirá o que coube somente ao esforço de Cristo proporcionar: o retorno ao lar. 

Tony Sathler