15 junho, 2012

Humildade

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A plateia estava lotada, era a primeira vez que eu participava de uma série de palestras de um preletor renomado. Tudo ia muito bem, até que no terceiro dia, ele abriu um bilhete, e disse que alguém havia discordado de uma interpretação que ele dera a um texto. A pessoa mencionada levantou-se e iniciou uma discussão. A tensão foi geral, ficamos perplexos com o confronto. Porém, com muito autocontrole e a voz mais mansa do mundo, aquele teólogo, mestre de línguas originais, disse assim:
- Realmente, no texto original, é o que quer dizer, mas eu não quero brigar por isso...
Imediatamente a discussão terminou, cessaram-se os murmurinhos e ele retomou a palavra.


Fiquei abismada! Aquilo era algo totalmente novo para mim, um homem com tanto conhecimento, se rebaixar diante de todos, não era o que eu esperava. Como podia ser? Eu era convertida há anos e tudo o que eu tinha ouvido até então era pastores e líderes que, sem querer demonstrar fraqueza, tentavam provar por a mais b a exatidão do seu ponto de vista, tomando certa glória para si. Após aquele dia, suas palestras passaram a ter um novo significado para mim...
...“outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte”... (1 Pedro 5:5-6)
Era o que aquele pastor havia feito. Sua humildade provinha da segurança de que ele estava certo e não precisava medir forças para persuadir ninguém. Sem palavras, Deus lhe concedeu maior graça e, convencendo a todos, ele fora exaltado.

Opondo-se ao orgulho, a humildade é uma virtude, que através do Espírito Santo precisa ser cultivada em nós. O orgulho é como a erva daninha, a humildade, é como as flores de um jardim; lutar para exterminar o orgulho para que a humildade floresça, é um exercício diário, e começa com um exame aguçado de si mesmo e arrependimento diante de Deus.

A humildade nos subjuga, corrige nossa ótica e nos leva a olhar para o nosso coração, expõe nossas fraquezas de forma até dolorosa, crucifica nosso ego e nos faz compreender o exemplo do mestre:
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. (Filipenses 6:2-8), para servir a pecadores como nós.
Ela nos dá uma percepção sincera do que realmente somos: criaturas débeis, incapazes de algo bom, que lutam contra o pecado, não para obter glória para si, mas para serem vasos úteis nas mãos do Senhor. Para isso Ele nos chamou, para que sendo esvaziados, Sua glória seja manifesta através de nós. Nada é para nós ou nosso. Ele nos atraiu, Ele consumou a obra da nossa salvação, Ele nos santifica, Ele nos capacita, em tudo Lhe somos devedores; e esse conhecimento de nós mesmos, à luz da palavra de Deus, nos mantém na dependência dEle, em eterna gratidão.  

Ao final da temporada, procurei aquele pastor para me aconselhar e, embora mal o conhecesse, sua atitude de humildade me deu segurança para fazê-lo. Minha vida tomou um rumo diferente, minha concepção distorcida de cristianismo mudou, passei a crescer no Senhor com consciência ativa de onde eu vim, do que Ele fez por mim, do que eu sou nEle, e de tudo o que Ele quer fazer em mim e através de mim.

No exercício da humildade, minha vida espiritual, até então estagnada, tornou-se dinâmica e frutificou. E embora seja difícil, é um caminho muito mais excelente.


Ira Borges


Sugestão de leitura:
Humildade, verdadeira grandeza - J. C. Mahaney. Disponível em e-book no site da Editora Fiel.


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